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Crescer sem pressa.

  Crescer é uma estrada sem fim, uma dança onde os passos nem sempre sabem para onde vão. É aceitar que o mapa está incompleto — que as respostas estão perdidas no vento, sussurrando entre as folhas das nossas dúvidas. Vivemos num mundo apressado, onde tudo quer ser resolvido ontem. Querem que a gente decida quem é, onde vai, como será o futuro — como se fosse possível engarrafar o tempo e guardar no bolso. Mas o tempo não se engarrafa. Ele escorre, lento e inquieto, dentro de nós. Há uma beleza escondida no crescer sem pressa. No permitir-se tropeçar, levantar com os joelhos esfolados e olhar o céu sem pressa de encontrar respostas. No aprender que algumas perguntas não pedem respostas — pedem presença. E se a vida fosse um quadro inacabado? Se a perfeição fosse o risco de perder o encanto do imperfeito? Se o “não saber” fosse o espaço onde nasce a esperança? Quando aceitamos que não temos tudo resolvido, libertamo-nos do peso da obrigação. Soltamos a mão da pressa. E, finalmente,...

Ler. Para quê? Para tudo.

Ler é dessas coisas que a gente aprende antes de saber que vai precisar. Porque ninguém avisa, mas a leitura está em todo o lugar, mesmo quando não parece. Está no contrato que não se leu bem até ao fim. No medicamento que tomas “de cabeça”, achando que sabes. Está na placa que ignoraste no trânsito, e que explicava tudo. E sim, também está na matemática, embora alguns custem a aceitar: quem não entende um enunciado, não entende o problema. E aí, claro, culpam os números. Mas o curioso é o que acontece em casa. Há pais que se queixam, com toda a solenidade: “o meu filho não gosta de ler”. Dizem isso enquanto passam os olhos por uma notificação do WhatsApp, uma aba do Instagram e uma promoção do Mercado Livre. Tudo, menos um livro. E esquecem-se de uma verdade simples: criança que cresce entre telas, aprende a deslizar. Criança que cresce entre livros, aprende a perguntar. A leitura começa cedo. Muito antes da alfabetização. Começa quando se lê em voz alta uma história antes de dormi...

O Silêncio Onde Mora o Amor

Há dias em que o mundo parece feito de vidro estilhaçado. Os gestos tornam-se apressados, os olhos evitam-se, os corpos cruzam-se sem se tocarem. E então, no meio desse ruído mudo que é o quotidiano, há um instante — mínimo, quase invisível — em que o coração se recorda do essencial: a importância de se sentir amado. Não falo do amor romântico das novelas mal dobradas. Falo do amor que sussurra nas entrelinhas da existência. Do olhar que se demora. Da chávena de café deixada à tua espera. Da palavra dita no momento em que tudo em ti queria desistir. Sentir-se amado é ser reconhecido num mundo que tantas vezes nos invisibiliza. É saber que há um lugar onde a tua ausência seria notada. Que alguém conhece o som do teu riso e a pausa exata entre as tuas palavras. É uma âncora, mesmo quando tudo à volta balança. Há quem confunda ser amado com ser útil, ser necessário, ser eficaz. Mas o amor verdadeiro não exige eficiência. Ele existe apesar — ou por causa — das tuas imperfeições. É nessa...

Demorei anos a chegar aqui: cheguei cansada, mas feliz

Demorei anos. Anos de tropeços, de silêncios engolidos à força, de dores que tive vergonha de assumir. Demorei a perceber que crescer não é colecionar vitórias, é sobreviver às derrotas sem perder o coração inteiro. Não foi fácil, não foi mesmo. A vida tirou-me o tapete mais vezes do que consigo contar. E houve dias em que chorei com o travesseiro a ouvir-me porque era o único que não me interrompia. Mas não fiquei lá. Mesmo partida, levantei-me. Com menos certezas, mas com mais verdade. Perdi pessoas. Umas morreram. Outras só deixaram de aparecer. E aprendi a fazer luto mesmo com gente viva. Aprendi que há quem nos ame por temporadas e que isso não nos faz menos dignos de amor, faz-nos mais atentos aos que ficam sem prazo. Percebi que perder também é ganhar espaço. Que quando a vida te esvazia, é para que aprendas a preencher-te. Não com o que falta, mas com o que és. Hoje sei que ser mulher não é um rótulo bonito para caber nos discursos. É um campo de batalha onde se dança de pé...

Quando Decides Avançar

Há um momento em que deixas de esperar sinais e simplesmente vais. Dás o primeiro passo, mesmo sem certezas, e a vida — surpreendentemente, vem ao teu encontro. O caminho não se revela todo, mas o chão aparece sob os teus pés, passo a passo, como se dissesse: “Eu sabia que virias.” Saltas, e a rede, que não vias, estende-se no ar. Fechas uma porta, por fim, e uma janela abre-se com a luz mais bonita do dia. Escreves um ponto final onde doía, e ali, nesse ponto, brota um novo parágrafo. Perdoas. Não para esquecer, mas para te libertares. E ao perdoar, percebes: és tu quem fica mais leve. Mais serena. Mais inteira. Firmas os pés no presente. E é aí, no agora, que começas a encontrar o que procuravas lá fora. O caminho não estava perdido — só estavas distante de ti. Aprendes a amar sem medir. Sem o peso das expectativas. E nesse amor que não exige, descobres o que é eterno. Cuidas mais de ti. Do que é essencial. E vais aprendendo, com alguma ternura, a deixar ir o que já não vibra na tua ...

Somos todos cúmplices nas vidas de cada um

 Vivemos num tempo em que a individualidade é valorizada, e com razão. Somos únicos, com as nossas histórias, escolhas e trajetórias. Mas, no meio desse culto à independência, esquecemos de algo essencial: ninguém vive sozinho, ninguém é uma ilha e todos, de alguma forma, participamos das vidas uns dos outros . Somos cúmplices nas palavras, nos silêncios, nos olhares que damos e também nos que evitamos. Um gesto impensado, um comentário mal colocado ou, ao contrário, uma palavra de apoio, um simples "bom dia", um elogio sincero… tudo isso reverbera no outro. A vida humana é tecida por relações, e cada fio que tocamos pode mudar a forma como alguém enxerga o mundo ou se vê a si mesmo. Cúmplices não apenas nos grandes feitos, mas principalmente nos pequenos atos quotidianos: ao escutar alguém com atenção, ao ignorar um pedido de ajuda, ao replicar um preconceito, ao educar com empatia, ao inspirar pelo exemplo. O impacto pode parecer invisível, mas está lá, formando um mosaic...

Como descobrir o que queres fazer da vida (sem pânico)

 A pergunta “O que queres fazer da vida?” aparece cedo, como um daqueles filmes que insistem em repetir-se na nossa cabeça. Mas, spoiler: ninguém tem a resposta completa — nem os adultos que dizem que sim, têm. Descobrir o que queres fazer é um processo, não uma missão secreta com prazo final. Não é um raio-x da alma feito numa consulta rápida. É mais como caminhar por um jardim: às vezes andas em círculos, outras vezes paras para cheirar a flor, e às vezes tropeças numa pedra que nem sabias que estava ali. E está tudo bem. Mesmo. Não saber não é sinal de fracasso, é sinal de que estás a crescer. Experimenta coisas. Erra. Pergunta. Muda. Não precisas de ter um plano perfeito, só um caminho que faça sentido para ti, mesmo que mude amanhã. Faz perguntas a ti mesmo: o que te faz perder a noção do tempo? O que faz o teu coração bater mais forte, mesmo quando não é fácil? Quais são as coisas que, mesmo difíceis, te deixam com vontade de continuar? E não te compares. A tua vid...