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Parabéns, minha Maria

Hoje é o teu dia, Maria. Minha filha de cabelo azul, meu mirtilito, doce como a fruta de verão e forte como a tempestade que passa e deixa o mundo limpo. Cantas e danças como quem transforma o ar em música. E eu fico a olhar, sempre surpresa, sempre orgulhosa, porque vejo em ti a coragem de quem sabe que a vida se faz em passos e notas, em risos e silêncio, em sonhos que ninguém ousou medir. Somos mãe e filha, mas também cúmplices de segredos que o mundo não conhece, parceiras de risos e choros, confidentes de aventuras invisíveis. Tu és uma das minhas partes mais bonitas, aquele lugar do coração onde a alegria se senta e não se levanta. Hoje celebro-te, Maria, com o coração cheio, com a certeza de que a vida é melhor contigo dentro dela, com o cabelo azul que ilumina qualquer sala, com a tua coragem que me inspira a cada instante. Parabéns, meu mirtilito. Que continues a cantar, a dançar, a ser doce e valente, e que nunca percas a tua luz — porque é nela que me encontro feliz, tod...

Manual de sobrevivência para dias cinzentos

Primeiro, aceita: há dias que já nascem tortos. Nem o melhor café os endireita, nem a playlist certa os adoça. E, por mais que a gente esbraceje, eles insistem em chover dentro de casa. O truque? Não é lutar contra o cinzento. É aprender a dançar com ele. Faça da manta o seu esconderijo, e do sofá o palco principal. Se a vida insiste em desarrumar-lhe o humor, desarrume a cama também. Nada irrita mais um dia cinzento do que alguém a fazer uma soneca de propósito a meio da tarde. Permite-te uma extravagância: comer chocolates antes do jantar, rir de uma piada que só tu entendes, falar sozinha no espelho e ainda se aplaudir no fim. E se alguém reclamar da tua melancolia sorridente, oferece-lhe chá. Com duas pedras de sarcasmo e uma fatia de poesia — para ver se adoça. Nos dias cinzentos, não há manual de etiqueta. Há sobrevivência criativa. Há poesia escondida na fila da cantina, há humor no guarda-chuva que insiste em se virar do avesso, há beleza no cabelo desgrenhado que não obedece. ...

Matemática como poesia: a beleza escondida nos números

A matemática não é só números e regras. A matemática é música. É ritmo, é dança de ideias que se encontram no silêncio do papel. Cada equação é uma frase. Cada teorema, um poema que só quem lê com atenção consegue sentir. O zero não é vazio, é ponto de partida. O infinito não é assustador, é promessa. E os números primos? Ah… os números primos são segredos guardados com perfeição. Gosto de imaginar fórmulas como histórias: x encontra y, resolvem-se e transformam-se em algo maior do que ambos. O cálculo é suspense. A geometria, pintura. A álgebra é música que só toca quando a entendemos. Há beleza num padrão que se repete, em simetrias que nos surpreendem, em relações escondidas que nos revelam algo que já sabíamos mas não sabíamos que sabíamos. Ser apaixonada por matemática é perceber que a lógica tem poesia, que cada problema é um convite para olhar o mundo de outra forma, que cada solução é uma pequena vitória do entendimento sobre o caos. E no final, perceber que a matemática e...

Sou Filha da Serra …

Nasci na Serra da Estrela, onde o vento fala com as pedras e a neve cobre os telhados como se quisesse adormecer o tempo.
Sou beirã, feita de granito e de silêncio, moldada pela força das montanhas que me viram crescer. Na Covilhã aprendi a coragem: não a dos gestos grandiosos, mas a do dia a dia, de quem enfrenta o frio, a solidão e as distâncias. Ali, cada inverno era uma lição de resistência e cada primavera um milagre. Carrego em mim o coração do interior. Um coração teimoso, que não se dobra ao primeiro vendaval, mas que também sabe reconhecer a beleza escondida nos detalhes — na lã que aquece, no cheiro do pão quente, no rumor das histórias contadas em serões longos. Sou filha da neve e da pedra, mas também da esperança que insiste em florescer mesmo nos lugares mais duros. A Serra da Estrela não foi apenas o lugar onde nasci, foi a casa de todos os mitos da minha infância. Na Covilhã, cidade de neve, aprendi que o frio não é inimigo, mas mestre. Ele molda a coragem, talha o cará...

O que aprendo todos os dias com os meus alunos

Aprendo que o mundo é menor e maior do que eu pensava, tudo ao mesmo tempo. Que uma pergunta sem sentido pode ser mais sábia do que qualquer livro que eu já li. Que o riso deles é um vírus bom, que contagia mesmo quando estamos cansados. Aprendo que há paciência escondida dentro de nós, mas que eles têm o dom de a puxar para fora sem pedir licença. Aprendo que errar é natural, mas rir do próprio erro é ainda melhor. Aprendo que há infinitos jeitos de ver uma equação, de interpretar um poema, de imaginar uma história. Aprendo com o silêncio deles. Com os olhos que brilham quando percebem algo novo. Com a boca que se cala porque está a digerir o mundo. E aprendo também com o caos: cadernos espalhados, risadas que atravessam corredores, desenhos que não têm nada a ver com a matéria mas contam tudo sobre eles. Aprendo que ensinar não é só dar respostas, é aprender a perguntar de outro modo, a escutar de outra forma, a rir com mais cuidado. Aprendo que cada um deles é um livro inteiro, e...

Coisas que guardo e nunca digo

Guardo palavras como quem guarda sementes dentro do peito. Não digo, porque não quero que cresçam onde não devem, ou que voem pelos cantos errados da casa. Guardo memórias que se vestem de silêncio, que caminham à noite entre os móveis e me fazem companhia. São elas que me lembram que o tempo não passa, apenas se esconde nos detalhes que ninguém nota. Guardo medos que têm cheiro de chuva, medos que se agarram aos ossos e se confundem com os sonhos. Se eu os dissesse, talvez desaparecessem — ou talvez crescessem e me comessem inteira. Guardo amizades sem nome, amizades que só existem no som do vento ou no brilho do sol sobre a minha mão. Não os digo, porque não quero que se tornem ruidosos e estraguem a delicadeza do que sinto. Guardo risos que nunca nasceram, risos que se perderam em esquinas de ruas que já não visito. E guardo ternuras, aquelas que só sabem existir dentro de mim, como a água que se esconde debaixo das pedras, mas que continua a ser rio. E guardo tudo isso, não po...

O Guardião do Equinócio

O outono chega sempre como quem sabe segredos. Não entra de rompante, mas instala-se devagar, como uma mulher que percorre a casa acendendo velas, mudando as cortinas e preparando o coração para a estação das memórias. Dizem que o outono não chega, desperta. Adormecido nas entranhas da terra durante todo o verão, ergue-se no equinócio como um antigo guardião, caminhando em silêncio, trazendo nos bolsos o cheiro da lenha e o sussurro das folhas secas. As árvores são as primeiras a reconhecer a sua presença: vestem-se de ouro antes de se despirem, como se quisessem recordar-nos que até no fim há beleza. Cada folha que cai é uma carta escrita ao vento, uma mensagem dos deuses lembrando que nada é eterno, mas tudo retorna. Ao cair, elas desenham no chão um tapete de despedidas e promessas, e nesse gesto simples há mais sabedoria do que em muitos livros. O ar enche-se de uma melancolia doce, uma melodia feita de vento e silêncio, a música dos ciclos que nos recorda que tudo muda e que tudo ...