Coisas que guardo e nunca digo

Guardo palavras como quem guarda sementes dentro do peito.

Não digo, porque não quero que cresçam onde não devem,
ou que voem pelos cantos errados da casa.

Guardo memórias que se vestem de silêncio,
que caminham à noite entre os móveis e me fazem companhia.
São elas que me lembram que o tempo não passa,
apenas se esconde nos detalhes que ninguém nota.

Guardo medos que têm cheiro de chuva,
medos que se agarram aos ossos e se confundem com os sonhos.
Se eu os dissesse, talvez desaparecessem —
ou talvez crescessem e me comessem inteira.

Guardo amizades sem nome,
amizades que só existem no som do vento ou no brilho do sol sobre a minha mão.
Não os digo, porque não quero que se tornem ruidosos
e estraguem a delicadeza do que sinto.

Guardo risos que nunca nasceram,
risos que se perderam em esquinas de ruas que já não visito.
E guardo ternuras,
aquelas que só sabem existir dentro de mim,
como a água que se esconde debaixo das pedras,
mas que continua a ser rio.

E guardo tudo isso,
não porque seja forte,
mas porque aprendi que algumas coisas só sobrevivem
quando se tornam silêncio,
quando se tornam minhas.


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