Manual de sobrevivência para dias cinzentos

Primeiro, aceita: há dias que já nascem tortos.

Nem o melhor café os endireita, nem a playlist certa os adoça.
E, por mais que a gente esbraceje, eles insistem em chover dentro de casa.

O truque?
Não é lutar contra o cinzento.
É aprender a dançar com ele.

Faça da manta o seu esconderijo, e do sofá o palco principal.
Se a vida insiste em desarrumar-lhe o humor, desarrume a cama também.
Nada irrita mais um dia cinzento do que alguém a fazer uma soneca de propósito a meio da tarde.

Permite-te uma extravagância:
comer chocolates antes do jantar,
rir de uma piada que só tu entendes,
falar sozinha no espelho e ainda se aplaudir no fim.

E se alguém reclamar da tua melancolia sorridente, oferece-lhe chá.
Com duas pedras de sarcasmo e uma fatia de poesia — para ver se adoça.

Nos dias cinzentos, não há manual de etiqueta.
Há sobrevivência criativa.
Há poesia escondida na fila da cantina,
há humor no guarda-chuva que insiste em se virar do avesso,
há beleza no cabelo desgrenhado que não obedece.

Porque a vida, apesar de aborrecida às vezes,
fica sempre mais leve quando a tratamos como quem escreve uma crónica:
com uma pitada de riso,
uma colher de ternura,
e o atrevimento de transformar o cinzento numa cor bonita.


PB

Comments

Popular posts from this blog

Querida C.

uma espécie de mantra

Boas notas, más notas (ou como tirar 80% e ainda levar sermão)