Sou Filha da Serra …

Nasci na Serra da Estrela, onde o vento fala com as pedras e a neve cobre os telhados como se quisesse adormecer o tempo.
Sou beirã, feita de granito e de silêncio, moldada pela força das montanhas que me viram crescer.

Na Covilhã aprendi a coragem: não a dos gestos grandiosos, mas a do dia a dia, de quem enfrenta o frio, a solidão e as distâncias. Ali, cada inverno era uma lição de resistência e cada primavera um milagre.

Carrego em mim o coração do interior. Um coração teimoso, que não se dobra ao primeiro vendaval, mas que também sabe reconhecer a beleza escondida nos detalhes — na lã que aquece, no cheiro do pão quente, no rumor das histórias contadas em serões longos.

Sou filha da neve e da pedra, mas também da esperança que insiste em florescer mesmo nos lugares mais duros.

A Serra da Estrela não foi apenas o lugar onde nasci, foi a casa de todos os mitos da minha infância.

Na Covilhã, cidade de neve, aprendi que o frio não é inimigo, mas mestre. Ele molda a coragem, talha o caráter, dá à alma o mesmo brilho transparente dos cristais de gelo.

As pedras da serra guardam vozes antigas. Contam histórias de pastores, de mulheres que fiavam lã como quem tece destinos, de crianças que viam no branco da neve não ausência, mas promessa.

Eu cresci entre essas vozes. E por mais que a vida me leve por outros caminhos, dentro de mim continuará sempre a montanha, guardando-me com a sua força antiga.


PB

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