O tempo que não volta, mas ensina

O tempo não espera. Nunca esperou. Passa por nós como vento que não pede licença, carregando manhãs inteiras, tardes preguiçosas e noites silenciosas. Quando olhamos para trás, percebemos que tudo o que ficou são lembranças — algumas suaves, outras doloridas, mas sempre cheias de lições que ninguém nos contou.

Aprendi que o tempo não volta, mas ensina. Ensina-nos a valorizar o instante, mesmo quando ele parece pequeno demais para ter importância. Ensina-nos a perdoar, a sorrir sozinhas em silêncio, a perceber que cada gesto, por mais insignificante que pareça, deixa uma marca na nossa história. Cada passo que damos, cada escolha que fazemos, mesmo a mais trivial, carrega consigo um rasto que o tempo guarda para nós.

Há memórias que esquecemos, outras que guardamos como tesouros. Um olhar que durou um segundo, um cheiro que nos transporta, uma gargalhada roubada de um momento qualquer. O tempo leva-os, mas deixa-nos algo maior: a capacidade de compreender, de sentir, de crescer. Como se cada segundo tivesse uma missão secreta: transformar a pressa em atenção, o cansaço em paciência, a dor em aprendizagem.

E há também o que não se aprende sem tropeços. O tempo ensina-nos a lidar com ausências, com despedidas, com escolhas que não podemos desfazer. Ensina-nos a conviver com a saudade e a encontrar beleza nas pequenas coisas que antes passavam despercebidas: o cheiro do pão a sair do forno, o vento que brinca nas árvores, o silêncio que fala mais do que qualquer conversa.

Mas o tempo também nos dá  momentos de surpresa. Descobrimo-nos a sorrir de lembranças antigas, a rir de erros que pareciam terríveis, encantando-nos com encontros que surgem quando menos esperávamos. Descobrimos que, mesmo que o tempo não volte, podemos revisitá-lo na memória e nele encontrar ensinamentos e aconchego.

No fim, percebemos que ele nunca foi nosso inimigo. O tempo é paciente, silencioso, constante. Ele ensina que a vida não é medida pelo que conquistamos, mas pelo que aprendemos enquanto caminhamos, tropeçamos e levantamos novamente. Que cada instante vivido com atenção, mesmo pequeno, é um tesouro que o tempo nos permite guardar.

E assim, aprendemos a viver cada momento com cuidado, com amor, com atenção. A ouvir o mundo, a nós mesmas e aos que amamos. Porque, mesmo que o tempo não volte, ele deixa marcas que ensinam, que transformam, que moldam a nossa alma. E talvez isso seja o maior presente que podemos receber: a sabedoria de perceber que cada segundo vivido nunca se perde, e que a vida é, acima de tudo, um aprendizagem constante.


PB

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