O Silêncio Cruel da Falta de Empatia
Há algo de profundamente triste nas escolas quando o riso de uns é construído sobre o sofrimento de outros. O bullying não é apenas uma brincadeira que passou do limite — é um espelho daquilo que temos deixado de ensinar: o valor de sentir com o outro. Numa época em que se confunde esperteza com superioridade e ironia com inteligência, muitos alunos acreditam que humilhar é uma forma de se destacar. E o resultado é devastador: crianças e adolescentes que aprendem cedo a temer a diferença, a esconder o que são e a acreditar que o silêncio é a única defesa possível.
O bullying nasce onde a empatia morre. E a empatia, por sua vez, morre quando os olhares deixam de se encontrar. Quando a escola se torna um campo de competição, e não um espaço de convivência, abre-se espaço para a crueldade cotidiana: a gargalhada que fere, a exclusão disfarçada de brincadeira, o apelido que destrói mais do que qualquer murro. O que deveria ser um lugar de crescimento humano torna-se uma arena em que vence quem consegue ferir primeiro.
Mas é preciso lembrar: ninguém nasce cruel. A falta de empatia é aprendida, cultivada no descuido dos adultos, na pressa dos dias, na indiferença dos olhares. Quando a escola não fala sobre sentimentos, quando as famílias não escutam os silêncios dos filhos, quando a sociedade glorifica a aparência e o poder, o afeto torna-se invisível. E, sem afeto, tudo o que resta é a violência — aquela que grita, e a pior de todas, a que cala.
Combater o bullying não é apenas punir o agressor, mas ensinar novamente o que significa ser humano. É relembrar que cada palavra pode curar ou ferir, que cada gesto pode acolher ou excluir. A empatia não é uma virtude rara, é uma escolha diária — e talvez a mais urgente das lições que a escola precise reaprender a ensinar.
Porque no fim, a verdadeira educação não é a que forma génios, mas a que forma pessoas capazes de olhar o outro sem precisar diminuí-lo para se sentir maior.
(Escrito numa semana em que ouvi muitas queixas e enxuguei algumas lágrimas)
PB
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