Coisas que ninguém te contou sobre crescer (além das contas para pagar)

Crescer não é só pagar contas. Crescer é aprender a sentir o tempo de maneiras que ninguém avisa. É perceber que os domingos acabam cedo demais, que o silêncio da casa às vezes pesa mais que qualquer conversa, e que o café nunca será só café: é abraço, ritual, desculpa para segurar a vida com as mãos.

Ninguém te contou que crescer é perder coisas e pessoas devagar, como quem deixa as sombras de uma sala irem embora sem protesto. Que os dias passam com pressa, mas o coração continua tropeçando nos mesmos detalhes que amava quando era criança: a sombra da árvore na calçada, o cheiro do pão acabado de cozer, o riso que escapa de repente e ninguém sabe de onde veio.

Ninguém te disse que o riso pode ser ácido, que a saudade tem sabor de fruta madura e que a responsabilidade chega vestida de faturas e e-mails sem aviso. Que há momentos em que te sentes pequeno no mundo, e outros em que te reconheces gigante por ter sobrevivido a mais um dia, a mais uma lista de tarefas, a mais uma reunião de silêncio.

E há beleza nisso tudo. Porque crescer também é descobrir que o humor nasce das coisas simples: o erro que nos faz rir, a coincidência que nos surpreende, a memória que aparece quando menos esperamos. É aprender a equilibrar a gravidade da vida com a leveza do instante, a juntar coragem e ternura na mesma mão.

No fim, crescer é aceitar que as contas vão continuar a chegar, que o tempo não se estica e que as pessoas se vão e vêm. Mas também é perceber que ainda há momentos para nos perdermos no vento, para sentir o calor da luz atravessando as cortinas, para ouvir o mundo e a si mesmo ao mesmo tempo. Crescer é isso: caminhar com o coração atento, rir sozinho, e perceber que, apesar de tudo, vale a pena estar aqui, nesta confusão de dias e noites, tentando aprender a viver sem manual de instruções.


PB

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