Aquele banco de jardim

Há um banco de jardim na minha memória que continua a existir, mesmo quando já não passo por ele. Deve estar gasto, com a madeira cansada, talvez com tinta descascada pelas mãos insistentes do tempo. Mas não importa: os bancos de jardim nunca envelhecem de verdade, porque vivem mais de histórias do que de madeira.

Ali já se sentaram casais que acreditavam no amor eterno, e que, no entanto, acabaram por seguir caminhos diferentes. Já choraram adolescentes com os bolsos cheios de papéis amarrotados e sonhos que nunca contaram em voz alta. Já descansaram velhos solitários que olhavam as árvores como quem revê fotografias. E já riram crianças que usaram o banco apenas como trampolim para correr ainda mais depressa atrás de nada.

Se há lugar que coleciona segredos, é o banco de jardim. Ouve tudo e não julga. É um confessionário sem padre, sem penitência, sem respostas prontas. Apenas presença. Apenas madeira que aguenta. A vida acontece sentada ali, entre migalhas de pão que caem para os pombos e pensamentos que caem para dentro da alma.

Talvez eu também tenha deixado nele alguma coisa. Uma frase dita a meio, um silêncio que ninguém entendeu, uma lágrima disfarçada de riso. Os bancos de jardim guardam tudo isso sem reclamar espaço. São cofres discretos do que não coube em diários, do que não ousámos dizer a ninguém, do que não sabíamos ainda sentir.

Há quem diga que os bancos de jardim são lugares de espera. Mas eu penso o contrário: são lugares de revelação. Ali não esperamos nada, descobrimos. Descobrimos que o tempo pode andar devagar, que a pressa pode ser suspensa, que os detalhes mais pequenos — o vento a brincar nas folhas, o som distante de uma gargalhada — são afinal a parte mais importante da vida.

E, no fim, quando nos levantamos, o banco não se move, não nos segue, não nos pede nada. Fica ali, fiel, guardando cada segredo como quem guarda pedras preciosas. Ele sabe que amanhã virá outra pessoa, com outras dores e outras alegrias. E sabe, melhor do que nós, que a vida é feita disso: de passagens, de instantes, de gente que senta por um momento e depois vai embora, mas deixa sempre qualquer coisa atrás.

No fundo, talvez os bancos de jardim sejam professores silenciosos. Eles ensinam-nos a parar, a ouvir, a existir sem pressa. E, se lhes perguntássemos, talvez nos dissessem o que ninguém nunca teve coragem de dizer: que viver é menos sobre chegar, e mais sobre sentar-se de vez em quando, respirar fundo e simplesmente estar.


PB

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