Quando a "família" falha, mas os amigos cuidam...
(Para ti S. e para ti M. ... as que estão sempre, sempre lá para mim)
Há feridas que não sangram.
Mas que se abrem devagar, sempre no mesmo sítio:
nas ausências que se repetem,
nas palavras que nunca chegaram,
nas mãos que não se estenderam quando mais precisámos.
Faltaram-me nas horas em que o meu mundo desabava.
Desviaram o olhar quando caí.
E o que doeu, não foi o chão.
Foi a certeza de que ninguém viria buscar-me.
Chamam-se “família” como se isso bastasse.
Mas onde estavam quando me faltou colo?
Quando o medo foi maior do que o orgulho?
Quando a dor pedia companhia e só veio silêncio?
Família não é só código genético.
Família é quem fica.
Quem chega quando o mundo te desmorona no peito e não te pergunta o que fizeste para merecer.
É quem te ouve sem defesas.
Quem te vê sem filtro.
Quem te acolhe sem manual.
Há mães que nascem em amigas.
Há irmãos que se encontram depois dos trinta.
Há tios do coração e avós de vizinhança.
E há primos que são só estranhos com o mesmo apelido.
Aprendi a construir a minha família de dentro para fora.
Com quem me ama porque sim — e não porque tem o mesmo sangue.
Com quem me segura sem dívida,
sem culpa,
sem contrato.
Porque amar não é herança.
É escolha.
E há escolhas que salvam.
PB
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