Mães 5G
As mães 5G não nascem. Instalam-se.
Uma manhã qualquer, entre a primeira chamada perdida e a lancheira esquecida, percebe-se: já não são apenas mães, são rede.
Conectam-se a várias frequências ao mesmo tempo.
Enquanto atendem um e-mail, reparam no tom da voz do filho — “dói-te alguma coisa?” — e adivinham, sem exame clínico, a febre escondida.
Entre um telefonema e o jantar, ainda se lembram de perguntar à mãe delas se dormiu bem.
Têm cobertura em sítios onde nenhum satélite chega: sabem o que um olhar não disse, escutam o silêncio que ficou entre duas palavras, percebem a tristeza disfarçada no “está tudo bem”.
E quando o mundo inteiro perde sinal, elas improvisam antenas feitas de colo.
As mães 5G não têm tempo.
Carregam-no.
São carregadores portáteis de futuro, baterias de afeto sempre em risco de esgotar, mas milagrosamente a funcionar.
Conseguem ser chamadas de vídeo no quarto escuro, mensagem de voz às duas da manhã, notificação de esperança quando tudo parece fora de rede.
São memória viva em alta resolução: lembram aniversários esquecidos, guardam receitas de avós, devolvem histórias como quem devolve fotografias nunca tiradas.
E mesmo quando caem em zonas de sombra, continuam ligadas: o amor delas não conhece falhas de sistema.
As mães 5G não precisam de wi-fi.
São elas que distribuem a senha.
🌼
PB
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