hoje decidi não decidir
Hoje decidi não decidir.
E é um peso leve, uma anarquia silenciosa, uma pequena rebelião contra o calendário e os relógios. Decidir cansa, disse-me alguém uma vez, e hoje quis ouvir só o silêncio da indecisão. Sente-se no corpo como um rumor suave, um sussurro de liberdade que se instala nos ossos, enquanto o mundo insiste em empurrar para a frente, com mapas, horários e listas de tarefas.
Não decidi o que comer, não decidi se sorria ou se chorava, não decidi se falava ou se calava. Fiquei sentada entre o sim e o não, entre a vontade e a obrigação, como quem observa o mundo através da janela de um comboio parado. E percebi que há uma beleza clandestina em não escolher: ela permite que a vida respire, que os pensamentos se encontrem sem pressa, que os sentimentos se revelem sem etiqueta.
É um ato de desordem elegante: recusar a régua, o plano, a pressão. Hoje, deixei o acaso ser o meu guia, a hesitação a minha companhia. Talvez amanhã eu decida, talvez nunca mais decida, quem sabe? Mas hoje… hoje decidi não decidir, e há nisso uma espécie de luxo absoluto, uma espécie de riso silencioso e uma rebeldia que ninguém me rouba.
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