As dietas que começam sempre às segundas
Segundas-feiras. Essas malvadas cheias de promessas.
Promessas de cortar no pão, de evitar o chocolate, de comer saladas como se a alface e o tomate fossem felicidade líquida.
Todos nós sabemos que elas são inocentes, que nasceram para nos iludir, mas ainda assim, lá vamos nós, de peito aberto, na esperança de sermos pessoas diferentes.
A primeira segunda começa com boa vontade.
Levanto-me cedo, visto a roupa de ginásio que comprei em janeiro e ainda tem etiqueta, preparo um smoothie verde que cheira a desespero e tento convencer-me de que desta vez vai ser diferente.
Digo ao espelho: “Hoje, amiga, é a sério.”
O espelho olha-me com ironia e responde com silêncio cúmplice.
Às dez da manhã já estou a pensar na pastelaria da esquina.
Não que queira realmente entrar. Mas a memória do bolo de chocolate é tão forte que se instala na minha cabeça como um episódio de série que não consigo desligar.
O corpo lembra-se do prazer. O cérebro tenta argumentar.
O estômago, esse é um traidor, e dá-me sempre razão.
Chega a hora do almoço e a salada parece um castigo medieval.
Começo a filosofar sobre a injustiça da vida: “Por que é que os bolos são sempre tão gostosos e as alfaces não?”
Nessa altura, a segunda-feira já me traiu.
O smoothie verde é uma lembrança amarga, o bolo ainda é imaginário, mas o desejo de chocolate é real e urgente.
E à tarde… ah, a tarde é traiçoeira. Chegam os alunos com gomas, e pãezinhos com chouriço e eu ali ... a resistir ... com dificuldade e fraqueza.
E à noite? à noite é pior ... o sofá chama pelo meu nome, o Netflix sorri e as pipocas olham para mim com olhos de quem sabe todos os meus segredos.
O treino? Esquece.
A dieta? Rí-se de mim atrás da cortina da cozinha.
E eu rio também, uma risada culpada, de quem sabe que amanhã é outra segunda-feira.
Sim, porque a beleza da dieta que começa sempre às segundas é essa: há sempre recomeço.
Cada segunda é uma promessa renovada, um ritual de esperança e autoengano.
E cada falha é perdoada, porque na próxima segunda, lá estaremos outra vez.
Com a mesma boa vontade, o mesmo smoothie verde, o mesmo bolo imaginário à espreita.
No fundo, a segunda-feira é um ato de coragem, de teimosia, de amor-próprio disfarçado de disciplina.
E a vida segue e sorri, porque sabe que somos todos humanos (e fraquinhos) e claro, vulneráveis a bolos e pipocas...
PB
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