A magia de ver um filho dormir

 Há qualquer coisa de comovente em ver um filho dormir quando já não é criança.

É como se, por um instante, o tempo recuasse, e aquele corpo maior, quase adulto, se revelasse frágil outra vez.

Ele dorme depois de um dia cheio — de estudos, de trabalho, de pressas que já não cabem no colo da mãe. E, no entanto, ali está, entregue ao sono, com a mesma inocência de outrora. As mãos maiores, já de homem, repousam com a mesma confiança de quando eram pequeninas e cabiam dentro das nossas.

Ver um filho crescido dormir é assistir ao milagre de que, por mais que ele se alongue, ganhe voz própria e caminhos só dele, continua a ser nosso menino. É recordar que, debaixo das camadas de independência, ainda há um coração que repousa sem defesas, confiando no mundo — talvez porque, no fundo, sabe que há olhos que velam por ele.

E essa é a verdadeira magia: perceber que, enquanto ele cresce para fora, dentro de nós nunca deixa de caber inteiro.
Porque ver um filho dormir, já crescido, é a prova mais silenciosa de que o amor dos pais não envelhece nunca.

E, se quisermos ser honestos, há também uma pontinha de alívio: porque, enquanto dorme, não discute, não contraria, não deixa a loiça por lavar.
Talvez por isso o sono dos filhos seja tão bonito — é o único momento do dia em que parecem outra vez perfeitos.


PB

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