O Silêncio Onde Mora o Amor
Há dias em que o mundo parece feito de vidro estilhaçado. Os gestos tornam-se apressados, os olhos evitam-se, os corpos cruzam-se sem se tocarem. E então, no meio desse ruído mudo que é o quotidiano, há um instante — mínimo, quase invisível — em que o coração se recorda do essencial: a importância de se sentir amado.
Não falo do amor romântico das novelas mal dobradas. Falo do amor que sussurra nas entrelinhas da existência. Do olhar que se demora. Da chávena de café deixada à tua espera. Da palavra dita no momento em que tudo em ti queria desistir.
Sentir-se amado é ser reconhecido num mundo que tantas vezes nos invisibiliza. É saber que há um lugar onde a tua ausência seria notada. Que alguém conhece o som do teu riso e a pausa exata entre as tuas palavras. É uma âncora, mesmo quando tudo à volta balança.
Há quem confunda ser amado com ser útil, ser necessário, ser eficaz. Mas o amor verdadeiro não exige eficiência. Ele existe apesar — ou por causa — das tuas imperfeições. É nessa imperfeição partilhada que nos tornamos humanos. E é nesse reconhecimento do outro — no amor recebido sem esforço — que encontramos a paz que tantas vezes procuramos em lugares errados.
Talvez por isso, os que se sentem amados brilhem de forma diferente. Não precisam levantar a voz, nem provar o seu valor. Sabem que pertencem. E pertencem, porque foram vistos com olhos que não julgam, mas acolhem.
No fundo, o amor é uma casa. E sentir-se amado é encontrar a chave.
PB
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