Não tenho um caminho novo. Apenas um jeito novo de caminhar.
Não mudei de estrada.
Ainda acordo no mesmo quarto, abro a mesma porta, olho para o mesmo mundo, mas algo em mim deixou de andar como antes. Já não corro. Já não fujo. Já não me cobro tanto por não saber chegar. Não é o caminho que mudou. Fui eu.
Aprendi a caminhar com menos pressa, a respirar entre um passo e outro. Deixei de achar que cada curva precisa ter um destino claro, que há beleza nas rotas incertas e que há paz no passo que hesita, mas não recua.
Carrego menos peso agora. Larguei bagagens cheias de urgências inventadas, expectativas dos outros, versões antigas de mim. Percebi que o que me fazia tropeçar não era o chão: era o que eu insistia em levar às costas.
O caminho é o mesmo. Mas os olhos que o percorrem já não são. Agora reparo nas árvores à beira da estrada. Nos silêncios que dizem tanto. Nos sorrisos que passam como vento leve.
Não estou a chegar mais rápido. Mas estou a chegar melhor.
Porque caminhar não é só avançar. É também saber parar. Olhar em volta. Ouvir o que antes passava despercebido. Sentir o mundo com os pés, com a pele, com o tempo certo.
Talvez a vida não exija grandes mudanças. Talvez baste aprender a andar diferente. Um passo de cada vez. Com mais presença. Com mais verdade. Com menos medo.
Não tenho um caminho novo. Apenas um jeito novo de caminhar.
E, estranhamente, parece que é a primeira vez que ando de verdade.
PB
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