Ler. Para quê? Para tudo.

Ler é dessas coisas que a gente aprende antes de saber que vai precisar. Porque ninguém avisa, mas a leitura está em todo o lugar, mesmo quando não parece.

Está no contrato que não se leu bem até ao fim. No medicamento que tomas “de cabeça”, achando que sabes. Está na placa que ignoraste no trânsito, e que explicava tudo. E sim, também está na matemática, embora alguns custem a aceitar: quem não entende um enunciado, não entende o problema. E aí, claro, culpam os números.

Mas o curioso é o que acontece em casa. Há pais que se queixam, com toda a solenidade: “o meu filho não gosta de ler”. Dizem isso enquanto passam os olhos por uma notificação do WhatsApp, uma aba do Instagram e uma promoção do Mercado Livre. Tudo, menos um livro. E esquecem-se de uma verdade simples: criança que cresce entre telas, aprende a deslizar. Criança que cresce entre livros, aprende a perguntar.

A leitura começa cedo. Muito antes da alfabetização. Começa quando se lê em voz alta uma história antes de dormir. Quando se dá um livro em vez de um brinquedo que canta. Quando se ensina que os livros não são objetos de estante, mas passaportes e que cada página virada é um degrau no pensamento.

É bonito dizer que o melhor presente é um livro. Mas é verdade mesmo. E não é só pelo conteúdo. É pelo gesto. Porque ao dar um livro, você diz: “eu acredito que tu vais pensar, imaginar, crescer”. É um voto de confiança na inteligência do outro. E isso, convenhamos, vale mais do que qualquer brinquedo que pisca.

É claro que nem toda a gente vai virar um leitor voraz. E tudo bem. Mas quem lê, pensa melhor. Fala melhor. Discute com mais clareza, e com mais empatia. Até discute com mais elegância. Ler não serve só para acumular informação, serve para humanizar o pensamento.

Então sim, é preciso ler. Para tudo: para entender o mundo, para entender o outro, para se entender a si mesmo. E, quem sabe, até para entender matemática 😉

Mas se vocês querem mesmo que os vossos filhos leiam… comecem por vocês mesmos. Apareçam com um livro na mão. Mostrem prazer, não obrigação. Porque o exemplo não grita, sussurra. Mas, curiosamente, é o que mais fica.

E por favor: quando for comprar o próximo presente, não pergunte se a criança “gosta de ler”. Dê o livro e pronto. Ela pode não gostar no início. Mas, se tiver sorte, vai ser dessas crianças que um dia agradecem, porque perceberam que crescer com livros é o maior privilégio que existe.

Eu ofereço sempre livros e lá está, quem me conhece bem também me dá sempre mais um. 

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