"Crianças ansiosas, adultos apressados"
As crianças de hoje estão mais ansiosas, sim. Não porque nasceram assim. Mas porque o mundo à volta delas anda muito depressa, muito alto, muito barulhento e, tantas vezes, completamente de costas para o que elas realmente precisam.
As crianças não precisam de pressa. Precisam de tempo. Tempo para errar, para tentar de novo, para se sujar, para brincar, para fazer perguntas (às vezes tontas, outras vezes geniais), para olhar para o céu sem saber porquê. Mas o mundo moderno, apressado e cheio de apps de produtividade, ensinou até os pais a acreditarem que infância é um projeto com metas. E que quem não chegar à alfabetização antes dos 5 está "atrasado".
O problema — que é grande — é que essa ansiedade infantil não nasce nas crianças. Ela é emprestada. Herdada. Instalada. Vem nos olhares aflitos dos pais que vivem como se fossem sempre "quase" quase promovidos, quase bons o suficiente, quase presentes. Vem nos gritos disfarçados de notificações, nos silêncios carregados de pressa, nos horários que não deixam tempo nem para respirar.
As crianças sentem. E o que sentem, não sabem dizer com palavras. Por isso mordem, choram, não dormem, têm dores no peito, fazem birras. Estão a gritar por dentro por alguma calma, e ninguém ouve. Porque confundimos birra com má educação, inquietação com falta de limites, tristeza com "manha". E assim, o que é apenas um pedido de socorro vira castigo.
A infância anda cheia de diagnósticos e vazia de colo. Queremos tratar a ansiedade infantil como se fosse um erro de programação. Mas esquecemos que, no fundo, elas estão apenas a reagir a um mundo onde a ternura virou luxo, e a escuta virou exceção.
Mais do que nunca, precisamos de reaprender a ser adultos que protegem a infância e não que a empurram para a frente. A ansiedade das crianças é um espelho. E, talvez, o maior grito de que nós, os grandes, andamos a fazer tudo demasiado depressa e com demasiada pressa para sermos quem elas precisam.
Porque, não há crianças difíceis — há infâncias difíceis. E essas, sim, são sempre culpa dos adultos.
PB
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