Agosto ... vai mais devagar

Agosto anda a passar de salto alto.

Corre, sem olhar para trás, como se tivesse um avião para apanhar.
E eu, aqui, de vestido leve e pés descalços, a tentar convencê-lo a sentar-se comigo mais um bocado.
Ainda me falta tanto para viver nele.

Falta-me aquele livro que olha para mim todas as tardes, aberto na mesma página, a pedir colo.
Faltam-me os jantares longos com o pé enterrado na areia, o corpo ainda quente do sol, o sal a fazer de pulseira nos braços.
Falta-me ficar a olhar o horizonte até ele engolir o último pedaço de sol,
como quem assiste ao desfecho de um filme que não quer que acabe.

Agosto, meu querido, não me apresses.
Deixa-me mais uns mergulhos de olhos fechados,
mais conversas sem horas,
mais preguiça deitada ao som das ondas.
Não me tires este intervalo de vida em que tudo parece mais simples,
em que o relógio é só um enfeite e a agenda um mito.

Porque, quando tu fores, eu sei que volto às listas, aos prazos, aos compromissos.
E não há mar que me salve da pressa.


PB

Comments

Popular posts from this blog

Querida C.

uma espécie de mantra

Boas notas, más notas (ou como tirar 80% e ainda levar sermão)