A sociedade está a mudar

 A sociedade está a mudar.

Mas não sei se é para melhor ou se é só mais rápido.

Respiramos depressa, comemos depressa, amamos depressa —

e depois, claro, sofremos devagar.

A sociedade está a mudar e agora tudo é para ontem.

A resposta, a validação, o corpo perfeito, o feed alinhado, a opinião formada sobre tudo.

Sabes o que assusta?

Não é o avanço. É o vazio.

Essa pressa de parecer, antes de ser.

Antes, os miúdos brincavam na rua até anoitecer.

Agora sabem mais sobre filtros do que sobre árvores.

As pessoas falavam cara a cara. Agora digitam em silêncio.

E chamam a isso conexão.

A sociedade está a mudar, dizem.

Mas às vezes parece que estamos só a esquecer o essencial.

As conversas profundas.

O toque sem medo.

A pausa sem culpa.

O amor sem condições.

Estamos tão ocupados em ser funcionais, produtivos, desejáveis, opinativos,

que esquecemos de ser humanos.

Daquele tipo que sente, que falha, que escuta.

Daquele que chora no trânsito e ri em silêncio no supermercado.

A sociedade está a mudar, sim.

Mas se não pararmos para pensar, para sentir, para olhar uns para os outros —

um dia acordamos rodeados de tudo, menos de nós


PB

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