Sobre isto de ser filha única

 Filhos únicos não são filhos sós.

São filhos inteiros — inteiros de amor, de silêncios, de atenção, de mundos que cabem num só par de olhos.

Vivem num lugar onde as palavras ecoam mais fundo, onde os brinquedos esperam só por eles, onde o amor dos pais chega concentrado, sem divisões.

Mas junto com esse amor vem algo mais: uma espécie de peso invisível.

Ser filho único é também uma enorme responsabilidade.

É crescer sob luzes muito intensas, onde tudo é notado, tudo é esperado, tudo se cobra.

Exige-se deles uma perfeição que ninguém diz em voz alta, mas que mora em cada gesto, em cada olhar que espera demais.

São muitas vezes os guardiões das esperanças dos pais, os que carregam, sozinhos, os sonhos de uma família inteira.

Aprendem cedo a ser crescidos — a não dar trabalho, a não falhar, a acertar à primeira.

E, por isso, por dentro, às vezes pesam — não por falta de amor, mas por excesso de exigência.

Filhos únicos criam irmãos imaginários, dialogam com os silêncios da casa, fazem da solidão uma aliada.

São íntimos do tédio, da espera, da escuta.

E, com isso, desenvolvem uma sensibilidade rara, uma profundidade no sentir que poucos compreendem. Confere ...


PB


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