Ser Mãe de Jovens Adultos (ou: onde é que eu pus o manual de instruções?)
Ser mãe é uma coisa maravilhosa. Ligeiramente esquizofrénica, mas maravilhosa.
É acordar cansada, dormir preocupada e, no meio disso, ter de manter um ar calmo para que ninguém entre em pânico, nem os filhos, nem os vizinhos, nem o cão.
É fazer malabarismo com três braços (quando só se tem dois), responder a perguntas filosóficas às sete da manhã: “Mãe, porque é que os dinossauros morreram?” e, ao mesmo tempo, tentar lembrar-se se já aqueceu o leite ou se já passou do dia da vacina.
Eduardo Sá diria: “As mães não precisam de ser perfeitas. Só precisam de ser suficientemente boas. Mas ninguém lhes diz isso quando estão exaustas a tentar ser tudo.” E é verdade. A sociedade pede que a mãe seja nutricionista, psicóloga, motorista, fada-do-lar e gestora emocional, tudo com um sorriso e um cabelo impecável. Spoiler: às vezes, o cabelo está um caos. E está tudo bem.
Ser mãe é amar com uma intensidade absurda. É rir no meio do caos. É fazer voz de encorajamento quando o que se quer é fugir para uma ilha deserta com rede Wi-Fi e silêncio.
E depois há os momentos mágicos. Aquele abraço pegajoso de mãos com chocolate. O “gosto tanto de ti, mãe” que aparece do nada e derrete tudo. E o riso deles — ah, o riso deles — que vale por todas as noites mal dormidas e por todos os brinquedos espalhados no chão da sala.
No fundo, ser mãe é isto: sobreviver com graça (ou quase), falhar com afeto, amar com excesso… e, de vez em quando, conseguir tomar um café ainda quente.
Mas ser mãe de jovens adultos é outro campeonato!! Ser mãe de jovens adultos é um exercício avançado de contenção emocional e respiração profunda.
É sorrir e acenar quando eles dizem “Mãe, vou viajar com amigos para um sítio onde não há rede nem estrada” — e tu queres gritar “LEVA UM CASACO!” mas decides apenas dizer “Divirtam-se” (com um leve tremor na pálpebra).
Eles já crescem com certezas. Muitas. Sabem tudo sobre tudo: economia, política, alimentação saudável, crises existenciais. Menos onde estão as meias. Isso continua a ser território materno.
Eduardo Sá diria que “os filhos nunca deixam de ser filhos e as mães nunca se reformam.” E ele tem razão. Porque, mesmo quando saem de casa, ainda te ligam para perguntar se podem cozer arroz no micro-ondas. Ou o que significa “votar nulo”.
E tu lembras-te. Ah, como te lembras. Das noites em claro com febres de 38, das birras no supermercado por causa de um iogurte com um desenho animado. E pensas: como é que este ser humano que agora discute Kant e quer fazer um mestrado no México já foi aquele bebé que dormia no meu colo?
Mas ser mãe de jovens adultos também é aprender a desapegar, com estilo. É saber estar por perto… sem estar em cima. É ouvir sem corrigir (ou pelo menos tentar). É saber que eles precisam de voar, mas que voltam. Nem que seja para lavar roupa.
E que há coisas que nunca mudam. Como o cheiro deles quando entram em casa. A forma como dizem “Mãe” quando estão doentes (e voltam a ter 5 anos). Ou aquela cara de “está tudo bem” que tu lês como “dá-me um abraço porque o mundo lá fora é difícil”.
No fundo, ser mãe de jovens adultos é isto: amar em silêncio, ajudar sem invadir, lembrar sem sufocar. É um doutoramento em afeto com pós-graduação em liberdade.
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