Quando o silêncio educa mal
A gravidade de retirar a Educação Sexual da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento
Em pleno século XXI, Portugal assiste a um retrocesso preocupante: a retirada da Educação Sexual do currículo da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento. E o que parece, à superfície, uma reestruturação curricular, é, na verdade, uma decisão política com impacto profundo sobre as novas gerações.
Esta escolha não é neutra. É perigosa.
Educação Sexual não é luxo. É proteção.
Educar sobre sexualidade é falar de corpo, respeito, consentimento, igualdade e saúde.
É dar ferramentas para que crianças e jovens se conheçam, se protejam e aprendam a respeitar o outro.
Não é ideologia — é cidadania básica.
Não é estímulo precoce — é prevenção informada.
❌ Remover é abandonar.
Quando a escola se cala, a internet educa. E educa mal.
Sem orientação adequada, os jovens aprendem sobre sexualidade em lugares errados:
na pornografia, nos mitos que circulam nas redes sociais, na pressão dos pares, no silêncio dos adultos.
O resultado?
Relações abusivas normalizadas
ISTs em alta
Gravidezes indesejadas
Ansiedade, vergonha e desinformação
Violência no namoro
Falta de empatia e respeito pela diversidade
Falar de sexualidade é falar de cidadania
A disciplina de Cidadania e Desenvolvimento tem como missão formar cidadãos informados, críticos e empáticos. Excluir a educação sexual deste espaço é ignorar que o corpo e a identidade fazem parte da vida pública, das decisões, da política, da saúde e da convivência. Sem educação sexual, a cidadania ensinada nas escolas fica manca. Incompleta. Frágil.
O Estado tem um dever. E está a falhar. Portugal é signatário de compromissos internacionais que garantem o direito à Educação Sexual: a Convenção sobre os Direitos da Criança, as orientações da UNESCO, e até a própria Constituição da República Portuguesa.
Ao remover este conteúdo do currículo, o Estado rompe com esses compromissos. E mais do que isso: coloca em risco o desenvolvimento saudável de milhões de jovens.
Não se educa silenciando.
Educar é proteger. Educar é libertar. Educar é confiar que, com informação certa, cada jovem pode fazer escolhas mais conscientes, mais seguras, mais respeitosas — consigo e com o outro.
Tirar a educação sexual das escolas é um ato de abandono disfarçado de neutralidade. E a neutralidade, neste caso, tem consequências. Silenciosas. Mas reais.
É o futuro que apagamos quando decidimos não ensinar.
A cidadania não se aprende por instinto. E o respeito também não.
PB
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