O que fazer quando não se sabe o que escrever – um manifesto #404
Não sei o que escrever. E talvez esse seja o ponto.
Abro o editor como quem abre uma janela em dia nublado: esperando que alguma luz me atravesse, ainda que tímida, ainda que falhada. Mas tudo o que vejo são os erros de carregamento do meu próprio pensamento. A mente gira em círculos, como aquela bolinha que insiste em girar quando tudo trava. E gira. E gira. E não responde.
Escrever o quê, se tudo já foi dito? Se todos os tópicos já foram clicados, todos os sentimentos já foram hashtags, todas as frases já viraram bio de Instagram? Escrever o quê, se a vida real parece offline e o que pulsa está sempre num outro feed?
Então talvez o manifesto seja isso: o erro. A página em branco. O vácuo de sentido que nos empurra para o teclado, mesmo sem ideia alguma. Talvez o que tenhamos para dizer comece justamente quando não há nada para dizer. Quando o pensamento tropeça e a linguagem falha, aí nasce qualquer coisa que vale a pena ser lida — mesmo que seja só ruído, mesmo que seja só um suspiro em forma de texto.
Porque a escrita, às vezes, é só isso: procurar sentido com dedos trêmulos. Um pedido de socorro disfarçado de parágrafo. Um grito mudo entre um ponto e outro. Um 404 na alma.
E se não há caminho certo, eu invento um. Se não há tema, eu fabrico silêncio. Se não há palavras, eu roubo-as ao vazio.
Que este manifesto seja a prova de que até o erro tem lugar. Que até o nada pode ser verbo. E que o não saber o que escrever... já é escrever alguma coisa.
PB
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