O erro não é um fim

 O erro é uma porta sem maçaneta.

A gente não entra por querer. Escorrega, tropeça, e quando vê, já está lá dentro sentado entre os cacos do que pensava saber. E é ali, no susto, que o mundo se revela mais fundo.

O erro tem o cheiro da terra molhada depois do fogo. Arde, sim. Mas depois do ardor, vem o húmus. Vem o renascer das coisas que só sabiam crescer se antes morressem um pouco.

Foi o erro que me ensinou a escutar o silêncio. A perder sem perder-me. A ficar quando todos saíam. Porque o erro, mais que falha, é espelho: mostra-nos o que ainda não sabemos ser.

A perfeição é um país sem fronteira, onde ninguém vive. O erro, não. O erro tem aldeia, tem nome de mãe, tem rosto de gente que ri depois de chorar.

Errar é um verbo com raízes. E toda a raiz precisa escavar a escuridão para depois se fazer flor. Por isso, não me venhas com essa pressa de acertar. Acertar é bom, sim, mas o acerto não ensina. Ele só confirma. Quem ensina é o erro, esse professor sem livro ou caderno, que risca a lição no próprio peito.

Aprendi, enfim, que errar é humano porque ser humano é inacabado. E que belo é esse inacabamento, esse espaço de ainda poder mudar, ainda poder tentar, ainda poder amar de novo, mesmo depois de falhar.

No fim, o erro não é um fim.

É um começo que chega disfarçado

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