As crianças têm direitos

 As crianças têm direitos.
Direito ao colo, ao tempo, ao silêncio e ao barulho bom da infância.
Têm o direito de brincar até perder a hora, de inventar mundos debaixo da mesa da cozinha, de desenhar o céu da cor que quiserem — mesmo que seja verde.
Têm direito à escola, sim, mas também ao recreio. Direito ao conhecimento, mas também à curiosidade. Direito a serem ouvidas — com os olhos, com o coração — e não apenas mandadas calar por serem “pequenas demais”.
As crianças têm direito ao tédio — esse lugar fértil onde nascem os sonhos.
Mas nós enchemos as suas horas com compromissos, com horários de gente grande, com aulas e atividades, com metas e pressas. E, quando olhamos, já não são donas dos seus minutos. Têm a agenda cheia e a alma cansada. Sabem conjugar verbos em três línguas, mas já quase não sabem saltar à corda ou subir a um muro.
Rouba-se-lhes o tempo livre em nome de um futuro que ainda nem sabem se querem.
E esquecemo-nos de que o maior direito da infância é ser infância.
Porque o que elas mais precisam não é de mais tarefas, é de mais chão para correr descalças.
Não é de mais perfeição, é de mais paciência.
Não é de mais estímulo, é de mais presença.
As crianças têm o direito de errar sem medo.
De falar sem serem interrompidas.
De serem amadas pelo que são, e não pelo que fazem.
Têm direito a um lar onde se sinta calor — não apenas teto.
A uma escola onde aprendam a pensar — e não apenas a repetir.
A uma vida com menos performance e mais afeto.
E, acima de tudo, têm o direito sagrado de serem crianças: sem pressa, sem rótulos, sem manual de instruções. Com tempo para crescer, no corpo e na alma. A cair para que aprendam a levantar-se e com tempo para ser o que quiserem — até não quererem ser nada por um instante, e só olharem as nuvens a passar.

                                        

                                        🌼

PB

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