(In)GRATIDÃO

 

Ia começar este texto com um verbo que evito conjugar: detestar. Mas, sinceramente, não encontro outro que expresse tão bem o meu estado de espírito em relação às pessoas que têm tudo (sim, TUDO) e passam a vida a queixar-se exatamente disso. Não tenho paciência. Fico inquieta por não poder dizer nada e, no fundo, sinto-me desiludida—sobretudo com a natureza humana e com essa postura de desdém e banalidade diante das coisas boas da vida. Há uma insatisfação crónica, uma ânsia constante por aquilo que falta, como se a felicidade estivesse sempre no que ainda não se tem.

Muitas pessoas acreditam que só serão felizes quando conquistarem o que lhes falta e transformam as suas queixas num ritual diário, despejando-as nos ouvidos alheios. Não lhes importa que tenham saúde, trabalho, família, amigos, filhos, casa, comida—coisas simples, mas preciosas, pelas quais tantos lutam sem sucesso. O foco está sempre no que não têm.

Esquecer-se de agradecer pelo que já se tem é um desperdício. E em dias como hoje, em que a paciência para a ingratidão está esgotada, isso simplesmente cansa.

(Ser grato pelo presente não significa deixar de ter sonhos, ambições ou vontade de crescer. Lutar por objetivos, alcançar metas, desafiar-se e evoluir faz parte da vida. Mas tudo isso sem desprezar o que já se conquistou e sem esquecer a essência do que somos e do que ainda podemos ser.)

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