A verdade da mentira

Não sou consensual, nunca fui, e os meus amigos sabem bem os riscos que correm pela coragem de se afirmarem meus amigos. Correm o risco de, como eu, serem estimados por uns na mesma medida e proporção em que são não gostados por outros.

Não sou consensual nem sou pessoa de se gostar "mais ou menos"!! Aliás, se é para ser "mais ou menos", prefiro que não gostem de todo!! Gostem muito ou nada, mas nunca "assim-a-assim"!

A minha ausência de consensualidade vem do facto de ter o coração ao pé da boca, de dizer sempre, em qualquer circunstância, o que penso e de não fazer eco com as maiorias. Sou de opiniões fortes e nunca me calo perante uma injustiça, independentemente das suscetibilidades que possa vir a ferir. Não sou consensual e sou opiniosa, algo que muitos não me desculpam. Sou frontal, direta e assertiva (na opinião de alguns, agressiva, para outros dura) mas sou sempre verdadeira. Nunca esperem da minha parte obter uma meia verdade, ou uma meia mentira.

Não sou nem nunca fui consensual e ainda bem. Prefiro que haja pessoas que não gostem de mim e me antagonizem do que a falsidade das palmadinhas nas costas dos que vivem bem a fingir ser o que não são, a agradar para obter vantagens, a calar para chegar longe!  Não sou consensual e fujo dos que vivem no  faz de conta, com meias vidas e meios amigos, hipotecando o seu bem-estar e a sua integridade por meia dúzia de tostões! Não sou consensual nem fácil de gostar. Tenho mau feitio, na verdade, e demorei algum tempo até me sentir confortável com a não aceitação de uns e desdém de outros, ofendidos que ficavam com o atrevimento de eu dizer sempre o que penso. 

Com os anos, no entanto, aprendi a aceitar-me como sou, a reclamar o meu espaço e a mobilar a alma só com quem me acrescenta e nada me impõe, a conseguir ser no meio de tantos seres e a bastar-me a mim própria.  

Com os anos encontrei também a paz e aprendi a dar sentido ao que sou e a não me preocupar em ser aceite por quem não é ou vai apenas sendo. E essa paz, que hoje vive dentro de mim, está no mesmo lugar onde outrora encontrei a dor. A tristeza. A amargura e a saudade. É o mesmo sítio onde mora a minha fé, a esperança e o amor. É um lugar marcado pelas pegadas e marcas deixadas por todos os que se cruzaram comigo. Onde outrora deixaram verdades e também mentiras, onde me abraçaram, mas também me traíram. 

Este é o lugar seguro onde hoje me encontro. Cá dentro, onde muitas vezes achei que já não havia nada, mas afinal tinha tudo. Porque é essa a verdade, aqui dentro, tenho tudo.



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