livros
Cada um de nós tem uma forma de fintar a dor e dar a volta àqueles dias mais tristes. Desde que me lembro de ser crescida - e eu lembro-me de ter ficado crescida muito antes do tempo - que sempre me salvei desses dias menos bons com a ajuda da música, dos cadernos onde escrevia tudo o que sentia, mas essencialmente dos meus livros.
Nos dias mais tristes, aqueles onde me sentia profundamente infeliz, não eram os amigos que eu procurava, mas os meus livros. Não importava se eram novos ou se tinha que recorrer a histórias já lidas, a verdade é que eram eles que me salvavam os dias. Ainda hoje é assim. Ainda hoje são eles o meu antibiótico e a minha Sertralina.
Cada livro tem uma história e um momento na minha vida. Cada um deles marca um lugar e me traz de volta exatamente ao lugar onde preciso estar. Não tenho um livro preferido e não consigo livrar-me deles depois de os ler. Não percebo como há pessoas que os vendem ou dão ou colocam numa caixa no sótão. Nunca hei de entender isso. Os meus, depois de lidos, são religiosamente arrumados na estante do escritório. Ordenados. Juntos uns dos outros que também fazem parte da minha história, aconchegados por memórias para eu poder voltar a eles sempre e quantas vezes quiser.
Lembro-me sempre onde adquiri cada um, as circunstâncias e os sentimentos me despertaram, ou quando me foram oferecidos e, nesse caso, por quem. Quem me ama conhece-me. Quem me conhece oferece-me livros. Não há presente mais bonito que o cheiro e o toque de um livro novo, comprado e escolhido especialmente a pensar em mim.
Os livros são como pessoas. E tal como elas, há livros que são calmaria e sossego, como uma brisa de verão, e há livros que são tempestades e que passam pela nossa vida deixando um rasto de mudança e desassossego. Cada um tem um tempo na minha vida, marca um momento exato e encontra um lugar em mim. Livros que estarão sempre associados a sentimentos, a alegrias breves e a momentos de euforia, a muitos ganhos mas também a algumas perdas, a amor e abandono, a dor, crescimento, mas também revolta. Ao longo dos anos, mais do que amigos, os livros que fizeram parte da minha vida, resgataram-me da dor profunda, prenderam-me à vontade de existir e impedindo-me de me abandonar à tristeza de alguns dias, tiveram, por isso mesmo, o dom de ajudar a segurar à vida.
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